A camisa da seleção pesa e não é pelo que já foi. É pelo que deixaram que ela se tornasse.
Durante muito tempo, vestir a amarelinha era um ato simples. Quase inconsciente. Uma camisa no varal, um jogo na televisão, uma emoção coletiva. Ninguém perguntava em quem você votava. O Brasil era o Brasil. Hoje, a pergunta vem antes do grito de gol. E isso diz muito.
A camisa da Seleção foi sequestrada. Não pela política, mas pelo uso político da paixão. ou a dividir, em vez de reunir. E o futebol, que sempre andou à margem dos discursos oficiais, virou palco de gestos calculados e identidades impostas.
Agora, sob o comando de Ancelotti, a Seleção se depara com o seu maior desafio desde os anos 80: reaprender a ser popular. Não no sentido de marketing. No sentido de alma. Não basta ganhar. É preciso convencer. E, mais ainda, reconectar. A bola tem que voltar a ser motivo de união e não de suspeita.
Ancelotti sabe tudo de futebol, mas talvez ainda não saiba que aqui, mais do que tática, se cobra afeto. O Brasil joga com os pés, mas é julgado com o coração. O torcedor brasileiro não se afastou porque o time perdeu. Se afastou porque o time desapareceu.
A Seleção precisa voltar a existir na vida cotidiana. Precisa parar de parecer um produto e voltar a parecer uma causa. A camisa tem que voltar às ruas, às favelas, aos bares e às janelas. Só assim o torcedor vai querer vestir de novo o amarelo sem receio, sem vergonha, sem dúvida.